quarta-feira, 25 de abril de 2012

Meu pai


A vida vai passando e as coisas vão mudando de uma forma inesperada e surpreendente. Quando criança, olhava meu pai com uma admiração, ele parecia um gigante forte, que levanta-me sem o menor esforço, comprava rojões de são João em qualquer época do ano e soltava, para nossa diversão, minha irmã mais velha as vezes podia segurar junto com ele no cabo do rojão, eu ainda muito pequeno só podia brincar com as bombinhas de estalinho, essas meu pai apertava na mão até estourar o que aumentava a minha impressão de como ele era forte.
Trabalhador como poucos, por muitas e muitas vezes não estava em casa, em datas comemorativas ou festas, reservado e preocupado durante toda a vida, guardava internamente toda a frustração e humilhação que passava para nos sustentar, batalhador, guerreiro e ausente, aos olhos de um adolescente já não me parecia mais tão forte, na verdade nem tão grande, eu estava maior que ele, nossos pensamentos diferentes, somado a um adolescente que queria ver o mundo, contra um pai muito ocupado criou um abismo, separação, afastamento, solidão...
Mas tarde já grande, homem formado, novamente veio a admiração, aquele senhor já cansado pelo tempo, já aposentado, havia dado o sangue e os sua própria vida, para que nos tivéssemos pelo menos o necessário, sem luxo, mas sem nunca faltar nada, foi ele que me “obrigou” a começar a trabalhar bem cedo, a isso eu o agradeço, mas hoje enfraquecido pelo tempo cruel, emagrecido pela depressão dos anos e cansado pela falta de saúde, já não é o mesmo gigante de antes, já não é tão forte, nessa hora me pergunto:
Quando foi? Que ele ficou tão pequeno, quando foi que ficou tão fraco, quando.... foi....
Mas quando na minha cabeça de adulto forte, vejo ele tão fraco, tão vulnerável, tão pequeno, sinto um aperto no coração e imagino mais uma vez, quando foi? Talvez a pergunta certa a se fazer é porque foi? Porque não aproveitei mais, não fui mais presente, não briguei menos, não entendi mais... quando foi...
Por maior que eu possa ser, por mais forte do que ele que eu sou hoje, ainda olho e vejo aquele gigante forte que pode me levantar nos braços, porque a força dele não está em seu físico, esteve sempre onde continua a estar, em suas atitudes e em seu coração.

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